Orgulho nacional
Gosto muito de cinema, de bons filmes, com bons argumentos e bons actores. Há um filme mais ou menos recente, (2004), cuja acção se passa no aeroporto de Nova-York (JFK), que me faz lembrar a situação próxima de Portugal. O filme chama-se “Terminal de Aeroporto”, foi realizado por Steven Spielberg, e conta com a excelente participação de Tom Hanks (Viktor Navorski) e Catherine Zeta-Jones (hospedeira da United Airlines). No filme (baseado numa história verídica), Viktor vê negada autorização para entrar nos EUA porque durante o voo para Nova-York o seu país entra em revolução e, em consequência disso, o seu passaporte deixa de ser válido. Ou seja, durante as 3 horas do voo a realidade que conhecia deixou de existir, sendo apanhado por essa transformação num país estranho, falando mal a língua inglesa e sem alternativas. Na verdade, não podia sair da zona internacional do aeroporto. Estava preso em terra de ninguém.

Em Portugal a situação é um pouco essa. Por todo o lado onde vou observo que as pessoas ainda não perceberam o que aí vem: parece que não querem ver e estão apáticas. Mas se isso até é mais ou menos compreensível num cidadão comum, já me parece totalmente incompreensível nos responsáveis políticos.

Vejam se percebem: o mundo mudou. Durante este processo fantasioso de aprovação do orçamento de 2011, que todos sabiam que estava errado e não era para cumprir, a realidade já não é aquela de Outubro de 2010. Portugal tal como o conhecemos deixou de existir. Nada agora é como dantes.

Tal como Viktor Navorski, vejo o país a caminhar para eleições como se estas fossem mais umas eleições legislativas, como tantas outras no passado. Usam os mesmos métodos para as preparar, as mesmas regras para escolher os “eleitos”, o mesmo afastamento das necessidades dos cidadãos. Estão cegos? Não vêm o descalabro a que chegamos? Arriscam uma enorme percentagem de voto em branco.

Apetece-me gritar: O VOSSO PASSAPORTE JÁ NÃO É VÁLIDO. Acordem!

Sim estamos falidos.
Sim isto vai doer e de que maneira.
Sim vai atingir várias gerações.
Sim os nossos filhos e netos vão receber uma herança muito pesada.

Mas mais grave do que isso, porque tudo tem solução, é a vergonha e o efeito que tudo isto vai ter no orgulho nacional. Um país antigo como Portugal não vai deixar de existir. Claro que não, vai sobreviver de uma forma ou de outra. Mas recuperar o nosso amor-próprio, o orgulho desta nação de guerreiros e descobridores, de sonhadores e de poetas, de pessoas livres e amantes da aventura vai ser o mais difícil de conseguir. Portugal tal como o conhecíamos já não existe. Perdeu o orgulho, perdeu a reputação e o respeito dos nossos parceiros. Não há nada de mais humilhante.

Acordem!
Tomem atenção.
Estamos perdidos em terra de ninguém.

PS/ A entrevista de José Sócrates à RTP1 desta semana mostra bem como vai ser a campanha eleitoral: muita ilusão, mentira e efeitos especiais, um argumento minimalista e bem decorado, e um excelente actor. /DS

J. Norberto Pires
 


Farpas@Centro
E a Islândia pá? Em 2007 a Islândia viu o seu mundo perfeito começar a ruir, com o endividamento privado e o crédito mal parado. O 13º país com a melhor qualidade de vida do mundo, com cerca de 320 mil habitantes, vivia acima das suas potencialidades graças às “macaquices” bancárias dos senhores da alta finança. Quando tudo ruiu (acelerado pela crise do subprime nos EUA em 2008), como não podia deixar de ser, o FMI foi chamado para ajudar e, claro, tratou logo de querer emprestar dinheiro a juros elevadíssimos (5.5% ou mais). A Islândia mobilizou-se, realizou um referendo (numa data mítica, 25 de Abril de 2009) no qual 93% dos islandeses recusou a “ajuda” e trataram de mudar de vida (a sociedade islandesa recusou pagar com dinheiros públicos as falcatruas realizadas pelos bancos e pelos políticos). Despediram os políticos do passado, mudaram a constituição e trataram da vida. Custou, mas deram a volta à bancarrota e no ano passado o seu PIB já cresceu 1.2% no ultimo semestre (comparado com o anterior). Os cidadãos estiveram e estão com o novo governo porque este não lhes mentiu. Acordem pá!


Meltdown Iceland, Roger Boyes
Com este livro não há perigo de adormecer. Na verdade ele tira-lhe o sono de uma forma muito eficaz. O autor conta os detalhes da bancarrota da Islândia: como aconteceu, porque aconteceu, casos pessoais muito dramáticos contados por banqueiros, políticos e pessoas do dia-a-dia. Faz ainda um esforço para resumir aquilo que deve ser aprendido com este caso fabuloso da falência de um país inteiro. Mostra também como as economias dos vários países estão tão interligadas e são interdependentes. A crise do subprime nos EUA teve um dos seus mais fortes impactos neste distante e pequeno país Europeu, que quase não lhe sobrevivia. Impressionante.



Paulo Mota Pinto, deputado, Professor da Universidade de Coimbra
Não é um político como os outros. Não tem o discurso fácil, não é um arrebatador de massas, não tem a palavra e o discurso na ponta da língua. Isso ficou claro em muitos dos frente-a-frente na SIC-notícias. Aliás, é um pouco como o seu pai, o ex-primeiro-ministro Mota Pinto, daquilo que eu me lembro e retenho: sóbrio, sério,  competente e dedicado. Foi o cabeça de lista por Coimbra nas listas do PSD de 2009. E fez um excelente trabalho na Assembleia da República, fazendo uso da sua enorme competência técnica e sentido do dever. Eu vi, acompanhei, registei e agradeço, como cidadão, a forma como dignificou o papel de deputado e como representou Coimbra. Bem haja!

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